Eu costumo
dizer (e acredito muito nisso) que os livros que lemos fazem toda a diferença
em nossas vidas, independente de sermos ou não escritores. Em seu livro, “Para
Ler como um Escritor”, Francine Prose inicia tocando exatamente em um ponto que
eu gostaria de chegar ao falar sobre as leituras que nós (escritores) fazemos.
“[...] aprendemos a escrever com a prática, o trabalho árduo, a repetição de tentativas e erros, o sucesso e o fracasso e com os livros que admiramos.” (pag. 15)
Os livros
que lemos influenciam diretamente no modo que escrevemos, na forma que
enxergamos a literatura e no valor que damos a ela. Portanto, se você quer
escrever e\ou quer escrever melhor, o segredo é simples: leia. Há apenas uma diferença sutil (mas essencial) no modo que um
leitor lê um livro e um escritor (em tese) deveria ler esse mesmo livro: a
atenção empregada no ato.
O leitor
normalmente está mais ligado ao conteúdo: ao enredo, às ações dos personagens,
ao que sente enquanto lê etc. Um escritor[1]
que busca aprimorar sua escrita ou entender porque uma determinada frase ou
palavra evoca determinada emoção deveria exercitar o tipo de leitura que todos
nós já fizemos um dia e que talvez (não generalizando, claro) em algum momento tenhamos
perdido: a leitura atenta.
“Todos nós começamos como leitores atentos. [...] É palavra por palavra que aprendemos a ouvir e depois a ler, o que parece adequado, porque, afinal, foi assim que os livros que lemos foram escritos.” (pag. 17)
O que
quero dizer é: o escritor mencionado acima lê uma obra atento à forma dela: ao
modo que foi escrita; atento ao que está implícito, às escolhas feitas pelo
autor que a escreveu, ao que cada palavra quer dizer, às construções, ao que
cada parágrafo realmente informa ao leitor. Em outras palavras, esse escritor
lê fazendo-se perguntas como: por que o autor escolheu essa palavra e não
aquele sinônimo? Por que essa frase me faz sentir isso? Se o autor tivesse
escrito essa frase de outro jeito, em outra ordem ou com outras palavras, eu
ainda teria sentido isso? Todos esses adjetivos e advérbios eram realmente
necessários para informar algo tão simples? E se esse autor não tivesse
“enrolado” tanto para dizer isso, o efeito não teria sido maior e melhor? Por
que esse parágrafo é tão grande? E por quê esse é tão pequeno?